As crianças devem ser expostas a boas leituras no ambiente escolar para que possam se tornar leitoras ávidas ao longo da vida
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A importância da leitura nos anos escolares
Dicas de livros para cada fase do ensino
Ler um livro pode ser uma experiência marcante. As boas histórias, aquelas que nos cativam e nos fazem refletir, permanecem conosco vida afora.
Com algumas delas, ficamos vidrados do início ao fim e descobrimos coisas novas sobre o mundo, sobre nós, sobre as pessoas e as nossas relações. Elas nos ajudam a entender a realidade e o tempo presente ao mesmo tempo em que nos levam para outro mundo.
A leitura também desperta nossa imaginação e estimula nosso raciocínio, propiciando o desenvolvimento da criatividade. O vocabulário de quem lê é enriquecido, pois aprende-se novas palavras, novas formas de escrita, construções gramaticais e muito mais. O processo de aprendizagem de modo geral também ganha, pois o estímulo que o livro proporciona não se limita apenas à área de linguagens, gerando efeitos em outras áreas do conhecimento.
Com tantas vantagens, a literatura torna-se uma ferramenta fundamental para o ensino. Mas não é fácil acertar na escolha de obras literárias que se adequem à proposta de ensino da escola e, ao mesmo tempo, sejam capazes de despertar o interesse dos alunos. Porém, com alguns cuidados, levando em conta o perfil da instituição e das turmas, é possível aumentar consideravelmente a margem de acerto. Para alcançar maior êxito diante desse desafio, acompanhe o nosso passo a passo para a escolha do livro literário!
Literatura na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
As competências e habilidades que podem ser exploradas mediante a leitura de obras literárias estão descritas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento possui grande relevância para o norteamento dos currículos escolares, por isso é imprescindível conhecê-lo em detalhe.
Da Educação Infantil ao Ensino Médio, ressalta-se a importância da formação do leitor. Aos alunos, é preciso oferecer subsídios para que desenvolvam a capacidade de analisar o mundo, de defender seus pontos de vista com argumentos pertinentes, posicionando-se criticamente em situações dilemáticas. Tais capacidades conectam-se com o exercício da cidadania e com o desenvolvimento socioemocional.
Com base nos parâmetros da BNCC, é desejável que os alunos entrem em contato com obras pertencentes a variados gêneros textuais, com diversidade temática, misturando autores de diferentes épocas e localidades, obras nacionais e estrangeiras, com elementos característicos de diferentes culturas.
Devem-se indicar livros apropriados a não somente à faixa etária e ao ano escolar, mas também à maturidade leitora de cada aluno. O material pedagógico que acompanha os livros apresenta algumas das competências específicas da BNCC, cujo desenvolvimento pode ser estimulado por meio da leitura, sugerindo também atividades de exploração dos títulos, dentro e fora da sala de aula, antes, durante e após a leitura.
Passo a passo para escola do livro literário
Onde a literatura se insere na sua escola?
No processo de escolha das obras que serão indicadas aos alunos, os educadores devem pensar, primeiro, no perfil da escola, dos alunos e no propósito que desejam alcançar. Esse propósito pode ser o de aumentar o número de alunos leitores, promover a leitura de clássicos ou simplesmente incentivar o gosto pela literatura.
Além disso, a escola deve considerar se, na organização do cotidiano escolar, está previsto um tempo específico para a leitura, e se essa prática é também incentivada no ambiente familiar. A biblioteca escolar é um espaço agradável, convidativo? Os alunos são incentivados a frequentá-la? O acervo é variado? Nas famílias, não é incomum que a leitura seja usada como uma forma de punição ou que se converta em uma obrigação a ser cumprida sem questionamento, a despeito da motivação. Como mudar essa perspectiva? Que oportunidade a escola oferece de modo a converter a leitura em uma experiência de prazer?
Uma avaliação prévia das obras literárias que serão lidas ao longo do ano letivo auxilia no sucesso da escolha de títulos, de modo a atender tanto ao interesse dos alunos quanto à consecução do projeto pedagógico institucional.
Projeto Pedagógico
Uma forma de subsidiar essa avaliação prévia é estudar minuciosamente o Projeto Político Pedagógico (PPP) do ano, analisando em quais momentos é possível se trabalhar com obras literárias e relacionando tais obras a conteúdos previstos no programa. A escola pode planejar de forma equilibrada quantos livros serão trabalhados em cada ano e em que momento eles serão lidos, considerando, é claro, as opções disponíveis no catálogo de literatura das editoras.
No portal Coletivo Leitor, na seção “Nossos livros”, a consulta ao catálogo dos selos Ática, Scipione, Saraiva, Formato, Atual e Caramelo é facilitada pela existência de diferentes filtros de busca que permitem selecionar as obras por tema, datas comemorativas, competências da BNCC, ano escolar, gênero etc.
Ademais, muitas obras são acompanhadas por um “guia do professor” com sugestões de atividades, leituras complementares e discussões que podem ser realizadas com base no conteúdo dos livros. Os guias também ajudam a conectar as obras ao cotidiano dos alunos. Com esse direcionamento, é possível compreender melhor como utilizar a obra no curso do ensino.
Adequação à faixa etária
Um dos aspectos mais importantes a se considerar na escolha do material literário é que ele seja adequado, em termos de linguagem, estrutura, complexidade etc., à idade dos alunos e ao ano escolar em que será trabalhado. Alunos mais novos com um material muito acima do seu momento de aprendizado podem ser sentir desmotivados pela dificuldade de um livro. O mesmo acontece com alunos mais velhos com materiais muito fáceis, que não impliquem nenhum tipo de desafio.
Além do filtro “ano escolar”, as obras contêm ainda informações sobre o perfil do leitor, combinando o critério etário à modalidade de leitura (autônoma ou compartilhada) apropriada em cada caso, bem como eventuais indicações sobre características gráficas, como o uso de letra bastão, associadas ao grau de alfabetização do leitor.
Alguns aspectos importantes a serem considerados em cada segmento da Educação Básica:
Educação Infantil
A Educação Infantil na Base Nacional Comum Curricular é estruturada em cinco campos de experiência, onde estão definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. No campo da “Escuta, fala, pensamento e imaginação”, lê-se:
As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros.
(Base Nacional Comum Curricular, pág. 40)
Portanto, para a Educação Infantil não se trata apenas de escolher livros ilustrados. Há sempre uma narrativa, uma história importante a ser contada e trabalhada com os alunos. Pensando nas habilidades socioemocionais, os livros podem propor uma abordagem que leve a expor e trabalhar os sentimentos do leitor. À parte o aprendizado socioemocional, há também obras que permitem explorar a diversidade étnico-cultural e os dilemas do crescimento de forma lúdica, adequada para crianças.
Na hora de escolher as obras para a Educação Infantil, o educador deve ainda buscar narrativas compatíveis com o perfil da escola e o que ela almeja oferecer aos pequenos. Aqui estão dois exemplos de obras voltadas para a Educação Infantil e que podem cumprir diferentes propósitos:
Uma linda menina negra desperta a admiração de um coelho branco, que deseja ter uma filha tão pretinha quanto ela. Cada vez que ele lhe pergunta qual o segredo de sua cor, ela inventa uma história. O coelho segue todos os “conselhos” da menina, mas continua branco.
• Competência trabalhada: Cultura afro-brasileira;
• Segmento: Literatura Infantil;
• Ano escolar: 1º ano e 2º ano.
Uma maneira lúdica de ver a alfabetização musical, criada pela arte-educadora Margareth Darezzo. O livro, cheio de surpresas interativas, traz um CD com 15 canções, que tratam de temas importantes, como aceitação das diferenças e preservação da natureza. Cada canção é acompanhada de uma brincadeira e um exercício de sensibilização musical – além da letra da música para a criança acompanhar. O volume traz ainda informações sobre instrumentos, compositores e ritmos.
• Competência trabalhada: Animais, artes, diferenças, natureza, poesia;
• Segmento: Informativo Infantil;
• Ano escolar: 1º ano e 2º ano.
Educação Fundamental
O Ensino Fundamental divide-se em Ano Iniciais, 1° ao 5° anos, e Anos Finais, 6° ao 9° anos. Para o primeiro segmento, as obras trabalhadas já são mais complexas que aquelas da Educação Infantil, mas dirigidas a um leitor ainda em formação. Para os Anos Finais, em que os alunos são pré-adolescentes e adolescentes, adentramos no universo da literatura mais juvenil.
A BNCC prevê seis competências especificas para a área de Linguagens para o Ensino Fundamental, que abordam a necessidade de desenvolver a compreensão e exploração de diferentes linguagens. A Língua Portuguesa é uma competência curricular específica e abriga o Eixo Leitura, que:
“[…] compreende as práticas de linguagem que decorrem da interação ativa do leitor/ouvinte/espectador com textos escritos, orais e multissemióticos de sua interpretação. […] Leitura, no contexto da BNCC, é tomada em sentido mais amplo, dizendo respeito não somente ao texto escrito, mas também a imagens estáticas (foto, pintura, desenho, esquema, gráfico, diagrama) ou em movimento (filmes, vídeos etc.) e ao som (música) que acompanha e cossignifica muitos gêneros digitais”.
(Base Nacional Comum Curricular, pág. 70 – 71)
Portanto, para o Ensino Fundamental, a BNCC prevê “a leitura em sentido amplo”, o que inclui saber analisar imagens, áudios, vídeos e formas híbridas, gêneros digitais etc. Elementos diversificados que estimulam o desenvolvimento cognitivo e convocam novas formas de interpretação. Livros com imagens são tão valiosos para o aprendizado quanto a prosa. Histórias em Quadrinhos, por exemplo, podem ser uma excelente ferramenta para qualquer etapa do Ensino Fundamental.
Veja dois exemplos de Histórias em Quadrinhos, uma para os Anos Iniciais e outra para Anos Finais do Ensino Fundamental:
As tiras de História em Quadrinhos do índio Tibica são a obra de cunho mais pessoal de Renato Canini. Às vezes satírico, outras vezes fazendo uso do seu ser poético, Tibica conversa com as plantas, com os animais e com os missionários. Sua comunicação carregada de graça, sutileza e humor atrai os públicos infantil e adulto. Um dos pontos fortes de Canini é a economia de seus traços, retratando paisagens e personagens diversos com poucas linhas, dentro de um estilo pessoal forte, simples e direto.
• Ano escolar: 3º ano.
Do fundo do mato-virgem, da inventiva imaginação de Mário de Andrade e dos estojos de pintura de Rodrigo Rosa nasceu o protagonista desta HQ. Macunaíma, criado originalmente pelo autor modernista, ganha agora novas formas e cores. Ao retratar um representante do caráter nacional, Mário de Andrade reuniu informações sobre folclore, lendas, mitos indígenas e causos populares para dar vida ao anti-herói desbocado, preguiçoso, luxurioso e mentiroso que intriga e diverte leitores desde 1928. Nesta adaptação do clássico Modernista, o tom bem-humorado e fantástico da obra original é mantido, e a narrativa fragmentada e veloz nos leva a viajar em busca da muiraquitã perdida e de traços da nossa identidade cultural.
• Ano escolar: 8º ano e 9º ano.
Educação Médio
Sobre a área de Linguagens e suas tecnologias, a BNCC do Ensino Médio recomenda:
“No Ensino Médio, a área tem a responsabilidade de propiciar oportunidades para a consolidação e a ampliação das habilidades de uso e de reflexão sobre as linguagens – artísticas, corporais e verbais (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita) –, que são objeto de seus diferentes componentes (Arte, Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa).”
(BNCC do Ensino Médio, pág. 474)
Neste romance, em um momento histórico e significativo para o entendimento da formação identitária do Brasil – a colonização –, o leitor tem a possibilidade de viajar por terras desconhecidas, repletas de aventuras, perigos, sobrevivências de um personagem cheio de sofridas histórias para contar, mas que nem por isso deixa de ter seus momentos de confabulações e sonhos de mudar de vida.
A narrativa apresenta fatos reais e surreais, estes, muitas vezes, próximos do mundo fantástico, das superstições de uma época remota. Uma história que convida o leitor a percorrer não só caminhos, mas também os descaminhos de um jovem que tenta de tudo para se dar bem, com seus desejos e muitos medos.
O livro Trago na boca a memória do meu fim foi agraciado com a distinção Hors Concours no III Prêmio AEILJ de Literatura. Essa distinção é feita quando o livro é apresentado sem competir com os demais.
Diversidade de repertório
Outro ponto muito importante na escolha de livros literários é assegurar ao leitor a constituição de um repertório variado, com obras de vários gêneros e estilos. Poesia, conto, romance, histórias em quadrinho, literatura de cordel… existem muitas opções disponíveis. A variedade contempla a multiplicidade de gostos e preferências, contribuindo para sustentar a curiosidade dos alunos ao longo do ano.
O recurso a obras mais célebres, em versão original ou em adaptações, clássicas ou modernas, nacionais ou estrangeiras, também pode contribuir nesse sentido. Obras que viraram filmes, por exemplo, podem ensejar comparações entre o texto literário e as adaptações para outras linguagens – como é o caso de Alice no país das maravilhas ou Dom Casmurro. Tal estratégia talvez sirva para conquistar a atenção de alunos que ainda não cultivaram suficientemente o hábito de ler. Assistir a um filme talvez constitua uma espécie de preparação para o contato posterior com o livro.
Mediação e Leitura
No processo de leitura de livros literários, o professor atua como um mediador e facilitador, incentivando discussões e reflexões. Ainda que parte dos alunos não aprecie o livro escolhido, isso não significa que a aprendizagem não aconteceu nem que o tempo dedicado à leitura foi perdido.
As atividades subsequentes à leitura podem explorar as razões pelas quais alguns alunos não gostaram do livro, relacionando a sensação que tiveram a alguns de seus aspectos compositivos (manejo da linguagem, caracterização das personagens, condução do enredo etc.). Desse modo, graças à mediação feita pelo professor, aos questionamentos que ele dirige aos alunos, aos debates que enseja, amplia-se o repertório da turma, incentiva-se o direito à opinião, desenvolve-se o senso crítico.
O trabalho de facilitação e mediação de leitura consiste em alimentar a discussão sobre a leitura e ser capaz de levantar pontos que despertem a vontade de participação.
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