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Ao folhearmos um livro só com imagens, uma das sensações iniciais que temos é a de certo estranhamento, causado pela ausência do texto escrito, pelo inesperado silêncio das palavras. O chamado livro imagem constrói sua estrutura narrativa apenas por meio de texto visual, e tal quebra de expectativa leitora nos abre para novas formas de ler.
No cinema, as cenas fotografadas em série pela câmera se sobrepõem velozmente e nos presenteiam com a ilusão do movimento. A concepção por trás de um livro imagem é a mesma, porém, em um intervalo de tempo bem mais espaçado, e com cenas estáticas. Se, no cinema, a história movimenta-se na tela, em um livro imagem, quem faz o movimento narrativo é o olhar do leitor.
Nesse tipo de livro, o tecido da história precisa ser costurado por nossa capacidade de observação e decodificação imagética. Desse modo, nosso olhar tem de interpretar uma sequência de estímulos visuais em determinada ordem, a fim de preencher lacunas e, então, criar sentido.
No universo da literatura para crianças, o livro imagem ganha ainda mais fôlego, já que o mundo dos ilustrados ancora-se principalmente na infância. No entanto, os livros que narram só com imagens podem ser lidos em qualquer idade, pois oferecem o exercício da diversidade estética e a oportunidade de uma leitura mais aberta e autônoma.
Diante disso, como levar para um ambiente tão dinâmico como o da sala de aula um tipo de livro que demanda uma atenção mais desperta, uma imaginação tão concentrada quanto livre?
O ideal é que a quantidade de exemplares disponíveis do livro imagem para leitura e o ambiente da sala de aula permitam configurações para uma leitura individual ou em pequenos grupos, preferencialmente.
No caso da leitura individual, é importante que o silêncio seja demarcado como precondição. Cada aluno tem que observar as páginas do livro imagem em detalhes e ter o próprio tempo de “virada de página”. Isso não significa reprimir manifestações de emoção ou surpresa, corresponde apenas ao zelo para que todos tenham a melhor experiência possível de construção narrativa a partir dos detalhes e da justaposição das ilustrações, com atenção à composição dos personagens, do enredo, do tempo e do espaço. A leitura de um livro imagem se faz sem pressa.
Na leitura em pequenos grupos, o silêncio passa a ser algo a ser administrado. A discussão entre os membros e o manuseio do objeto por todos acentuam-se, e tais relações devem ser incentivadas e, principalmente, mediadas, já que a história será construída ao mesmo tempo por diferentes olhares.
Caso não haja mais de um exemplar do livro imagem a ser lido, a proposta é fazer uma leitura coletiva. Aqui, a mediação do professor ganha ainda mais destaque. É aconselhável que a obra seja ampliada por meio de uma projeção ou que os alunos se aglutinem bem próximos ao professor, que exibirá nas mãos o livro a ser lido. Para isso, todos os alunos terão de observar juntos página a página da obra.
Nessa leitura coletiva, o professor precisa ter aguçada a sua capacidade de percepção. Não há necessidade de intervenções, mas é fundamental notar se algum aluno quer ficar mais tempo em uma página; se alguém deseja fazer um comentário; se uma discussão eclode e se faz urgente restituir a concentração do grupo no que o livro mostra.
Ao término da leitura de um livro imagem, o compartilhamento de impressões e interpretações é inevitável, e isso ocorre pelo desejo de validação coletiva do sentido compreendido. Nessa etapa, a escuta e a mediação devem caminhar juntas, não negligenciando visões destoantes, mas condensando e direcionando os olhares para detalhes não vistos.
Cada uma dessas três possibilidades de leitura em sala de aula deve ser levada em conta na seleção, por parte do professor, do livro imagem a ser lido. Obras com muitos detalhes e que suscitam ir e vir nas páginas são mais adequadas a uma leitura individual ou em pequenos grupos, por exemplo.
Por fim, um dos grandes desafios na proposição desse tipo de leitura é o diálogo justo entre o protagonismo que o livro imagem demanda do leitor e a mediação docente. Chegar a esse equilíbrio não é imediato: a leitura dessas obras convida à experimentação, especialmente porque é calcada na liberdade do ver. O livro imagem, em síntese, se apresenta como um potente instrumento para a formação de leitores livres. Cabe ao professor, assim, arriscar-se nessa delicada aventura de educar pela liberdade.
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