Os desafios da alfabetização no dia a dia escolar

por 29 jun 2022Inovação & Tecnologia

Segundo especialistas, os principais desafios da alfabetização são a falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos e o baixo interesse dos estudantes

Tempo de Leitura: 7 minutos

Entendendo os desafios da alfabetização

Soluções inovadoras para a sala de aula
Os desafios da alfabetização no dia a dia escolar

Fonte da Imagem: Shutterstock

A educação no Brasil sempre foi desafiadora. O primeiro deles é a falta de dados sobre o cenário escolar. A Avaliação Nacional de Alfabetização, por exemplo, foi atualizada pela última vez em 2016 e mostrava que no 3º ano do Ensino Fundamental menos da metade dos alunos alcançou os níveis de proficiência em Leitura (45,3%) e em Matemática (45,5%).

Já o Anuário Brasileiro da Educação Básica, com dados de 2018, revelam que ao final do Ensino Fundamental I, a taxa não é muito melhor: apenas 60,7% dos alunos têm aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e 48,9%, em Matemática. Sem dados que mostrem a realidade, se torna ainda mais difícil melhorar o cenário, especialmente levando em conta as mudanças e prejuízos trazidos pela pandemia, que deixou 5 milhões de crianças e jovens sem acesso à educação – a maior parte delas – 41% – com idades entre 6 e 10 anos, segundo informações da Unicef.

Principais desafios

Esses números mostram que desde o início da alfabetização, os alunos da rede pública já enfrentam desafios, que só agravam conforme avançam nos anos escolares. Tânia Opik Gomes de Arruda, professora da Educação Infantil em escola pública, elenca alguns dos principais desafios nos primeiros anos da educação básica. “Entre os principais desafios está a falta de compromisso da família com o processo de aprendizagem das crianças e a falta de interesse do próprio aluno em aprender”, explica.

Trazer os pais para mais perto da escola de fato é um desafio tanto no ensino público quanto no privado, como explica Vanessa Moreira Crecci, ex-consultora acadêmica na Kroton Educacional. “Infelizmente, a sociedade ainda acredita que a educação da criança é uma exclusividade da escola, por isso muitos pais acabam não se envolvendo no desenvolvimento educacional dos filhos”.

Mas nem tudo está perdido, a comunidade escolar ainda pode reverter o quadro, começando por mostrar que a educação de uma criança é responsabilidade de todos. Para isso, é fundamental estimular a participação contínua dos pais, que precisam se sentir ouvidos pela escola para que tenham a consciência de que realmente podem se envolver na vida escolar dos filhos e contribuir para a formação deles, ainda que não tenham formação pedagógica. “O professor pode, por exemplo, avisar aos pais com antecedência os que os filhos vão aprender na semana seguinte e, a partir daí, verificar se eles têm alguma contribuição a fazer ou se tem alguma dúvida a respeito do conteúdo”, explica Cibele Mendanha Dias, consultora pedagógica da SOMOS Educação.

Outra sugestão da especialista é que os educadores analisem a perspectiva dos pais sobre quais recursos utilizados no processo de aprendizagem estão contribuindo mais para a evolução da criança. Cibele acredita que quando isso acontece, o professor conta com a colaboração dos pais para promover uma melhor alfabetização.

Já a sugestão da professora Tânia inclui o desenvolvimento de um sistema de cobrança mais eficiente quanto a participação das famílias no processo de aprendizagem dos alunos para que esse desafio seja de fato solucionado.

Como estimular o interesse do aluno?

Quanto ao segundo desafio – a falta de interesse do próprio aluno – os motivos variam. Um deles pode ser a falta de estímulo dentro de casa, mas se os pais forem encorajados a se envolver, não há dúvida de que esse cenário pode mudar. Outra razão que pode estar minando o interesse das crianças pelo aprendizado em sala de aula é, sem dúvida, a falta de recursos tecnológicos. Não podemos esquecer que as novas gerações nascem e crescem envoltas por um mundo de tecnologias, que se não forem trazidas para a sala de aula – deixando para trás o modelo ultrapassado do ensino tradicional – dificilmente os estudantes vão se interessar pelo conteúdo que está sendo ensinado, que muitas vezes não condiz com a realidade vivida pela criança.

Para mudar essa realidade, é preciso que as ferramentas digitais do dia a dia estejam dentro da sala de aula. “As crianças, especialmente no pós-pandemia, esperam estão acostumadas com o digital, por isso ele deve estar presente. Há muitos recursos gratuitos que podem ser utilizados no processo de alfabetização, como podcasts, aplicativos, jogos, livros digitais que, se utilizados com intenção pedagógica, pensando nas habilidades que a serem desenvolvidas, pode trazer muitos benefícios”, esclarece Cibele.

Ela ainda sugere que para incentivar o desenvolvimento da escrita e da leitura, os professores devem utilizar contextos em que as crianças consigam se identificar, assim elas terão mais ânimo para participar da aula.

A professora Tânia ainda destaca que não basta apenas trazer os recursos tecnológicos para a sala de aula. Para ela, também precisa haver maior interesse dos professores em se atualizar e se preparar para os nossos desafios que estão aparecendo em sala de aula.

Uma obrigação de todos

É fato que a educação em nosso País enfrenta inúmeros obstáculos diariamente, mas a solução não vai aparecer em um passe de mágica. É preciso que governo, empresas e sociedade unam forças e busquem contribuir de alguma forma para que possamos avançar no tema. “Cada um de nós precisa fazer a sua parte para contribuir com a educação das nossas crianças. Apenas quando ganharmos essa consciência de que a educação é um problema de todos é que será possível conseguir virar esse jogo”, conclui Vanessa.

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